As diferenças entre o PSB de Eduardo Campos e o PT do ex-presidente
Lula ultrapassaram os limites eleitorais e atingiram a relação
administrativa entre Pernambuco e a União. Após reunião de monitoramento
com vários secretários que integram o Comitê de Enfrentamento à
Estiagem, nesta quinta-feira, Eduardo Campos fez questão de tornar
pública sua insatisfação com o tratamento que tem recebido do governo da
presidente Dilma Rousseff. Denunciou o socialista, que falta agilidade
da União nas intervenções emergenciais da Operação Seca instalada no
Estado (Leia mais em Cidades).
Foram quatro horas de reunião tomadas em grande parte pelo relato do
governador das dificuldades que vem enfrentando nos projetos em parceria
com o governo Dilma. O resultado do desabafo seguiu em uma carta para a
presidente com pedidos como, por exemplo, o de ampliação do Programa
Bolsa Estiagem. Eduardo também cobrou da presidente reforço na adutora
do Oeste, responsável pelo abastecimento do Sertão do Estado.
As cobranças públicas do presidente nacional do PSB à presidente
Dilma chegam no dia seguinte em que Eduardo Campos também cobrou do PT
reciprocidade na relação com seu partido na esfera política. O
socialista acusou os petistas de “não retribuírem na mesma proporção” o
apoio recebido do PSB no segundo turno das eleições municipais. Os dois
partidos ainda se enfrentam em três cidades (Campinas, Cuiabá e
Fortaleza), mas o PSB apóia o PT em onze dos 17 municípios onde o PT
disputa a eleição no próximo domingo.
Com a decisão de expor uma insatisfação com Dilma e com o PT, o
governador assina embaixo do vasto noticiário, até então especulativo,
de que as relações entre ele o Palácio do Planalto não andam mais em
clima de aliados. Apesar do fato de o PSB ter dado suporte a muitos
palanques do PT nessas eleições – sobretudo em São Paulo, projeto
prioritário do ex-presidente Lula – o enfrentamento entre as legendas em
capitais como Recife, Belo Horizonte e Fortaleza (esta em 2º turno)
acendeu o sinal vermelho no PT em torno dos passos de Eduardo rumo à
política nacional. Embora ainda eles não traduzam com precisão os rumos
que o governador pernambucano deve tomar, instalou-se-se em Lula, em
Dilma e no PT uma sensação de que o presidente nacional do PSB já
arquiteta voo próprio à presidência da República.
Tão logo venceu a eleição no Recife, elegendo Geraldo Julio prefeito,
Eduardo Campos encampou um discurso “nacional”: o da defesa de um novo
Pacto Federativo. Com essa bandeira, aquecida pela insatisfação de
prefeitos e de outros governadores insatisfeitos com os novos encargos
criados pelo Congresso Nacional, e munido da experiência de ter uma
administração aprovada, Eduardo Campos pode estar abrindo uma estrada
que o aproximará do lugar de chegada: o Palácio do Planalto. Seja em
2014 ou na eleição seguinte.
jc online.